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Liderança para que Resultados?

Por: João Torres Pereira (Partner)

Era uma vez um Diretor de Marketing recém-nomeado para a função, que vivia num país de sonhos vividos, em que o desenvolvimento de produtos e as estratégias de comunicação não dependiam tanto da globalização em estado de declínio.
O seu primeiro desafio, como decerto se adivinhava, era o lançamento de um produto.

Terá, a seu tempo, o ilustre Diretor de Marketing resolvido efetuar – como é de lei – os necessários estudos qualitativos com base em número ímpar de sessões de focus group, recrutados que foram os seus elementos de forma aleatória e apenas com dois conhecidos.

Posto isso, adjudicou à mais credenciada empresa de estudos de mercado o obrigatório estudo, – agora sim, quantitativo – para validação daquilo que já era a sua sensibilidade e a sua intuição feita de experiência vivida (ainda que curta): a opinião dos futuros e desejados consumidores.

Uns tempos depois – o necessário para decorrer todo o trabalho de campo e serem feitas as quase alquimistas cluster analysis – os resultados – que, após tanto trabalho, reuniões mais demoradas que o previsto, participantes no focus group que não chegaram a horas, e alguns inquéritos (ainda que poucos) que tinham sido falseados por um colaborador admitido à pressa para efetuar o último trabalho de campo – não pareciam, de facto, ser os melhores.

A correr para o telefone, ainda fixo – na expectativa de encontrar a secretária, agora promovida a assistente do seu Diretor Geral, maioritariamente ausente, quer da profissão quer de casa, e num intervalo curto entre duas chamadas telefónicas da imponente assistente – consegue como por milagre uma reunião para as oito e meia da noite, que já sabe pela experiência, escorregará, na melhor das hipóteses, para entre as nove e as dez.

Chegada que foi a altura da reunião – faltavam escassos minutos para as dez horas – anuncia ao seu Diretor Geral, com um misto de receio e de medo, que os resultados do estudo efetuado para o novo produto contido no designado projecto Shuttle não eram os mais satisfatórios, ao que o Diretor Geral – e como habitualmente com a resposta sempre na ponta de língua, tanto quanto imponderada – responde: “- Faz um novo estudo, até que bons resultados se consigam.”

A história é longa, mas tem muito de real e de vivido, e, estou certo, ilustra com algum pormenor aquilo que em muitas áreas de negócio – que é como quem diz, da nossa vida – erradamente acontece.

Por um lado, procuramos os resultados que nos sejam mais convenientes; por outro, um fim, sem excessiva atenção ao percurso, que é bastante mais importante que o resultado final.

Neste momento, muitos dos leitores poderiam, com toda a legitimidade, acusar-me de filósofo – como se a filosofia não devesse ser uma cadeira base de todo o processo de ensino – ou mesmo de sonhador, como se o sonho – ainda que os centros de decisão estejam cada vez mais fora do país – não devesse continuar a presidir ao destino das organizações, que, só assim nos levará a novas ideias, novos produtos e novos resultados.

Ainda que estas escassas palavras traduzam o que me vai na alma, procurarei também, de alguma forma, credibilizá-las com opinião de dois grandes sábios:

O que importa é partir, não é chegar. (Miguel Torga)

O motivo do lucro (resultados) e o seu descendente, a maximização dos lucros, são igualmente irrelevantes para a função de um negócio, para a finalidade de um negócio e para a tarefa de o gerir. Na realidade, o conceito é mais do que irrelevante: é prejudicial. Existe apenas uma definição válida de finalidade de negócio: criar um cliente. (Peter Drucker)

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